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A espiritualidade do Coração de Jesus

Atualizado: 16 de jun. de 2019


A ESPIRITUALIDADE DO CORAÇÃO DE JESUS: UM POUCO DE HISTÓRIA


O Papa Bento XVI na Carta ao Diretor Geral do Apostolado da Oração sobre o culto ao Coração de JESUS (15.05.2006) escreve: “A ferida dos cravos e a do costado de JESUS tem sido para incontáveis seres humanos, ao longo da história da Igreja, a fonte de um amor que alimentou sua vida.


Reconhecer o amor de Deus no Crucificado foi para essas pessoas uma experiência interior que as levou a um encontro pessoal com um Coração que nos ama”. Experiência que revela o surgimento da devoção ao Coração de JESUS ao longo da historia da Igreja, como vamos ver em breves traços.


A – TEMPO DE PREPARAÇÃO DA DEVOÇÃO AO SCJ: OS 10 PRIMEIROS SÉCULOS.


Durante os dez primeiros séculos da Igreja a devoção ao Coração de JESUS foi uma graça de apenas algumas pessoas privilegiadas, sem qualquer relação entre si, que a praticavam sob a influência do Espírito Santo na contemplação do lado de JESUS aberto pela lança. A idéia e a prática variavam com as pessoas.


Santo Ambrósio , no século IV escreve: “Beba de Cristo pois ele é rocha da qual nasce a fonte da vida. Beba de Cristo, pois ele é a paz, a plenitude, e de seu Coração brotam rios de água viva”. Santo Agostinho (+ 430) exclama: “Do lado aberto de JESUS jorraram o sangue da redenção, a água da regeneração espiritual e a Igreja, abrindo o caminho do acesso ao Pai”.


B – TEMPO DE DEVOÇÃO ÁS CINCO CHAGAS. SURGEM DEVOTOS DO CORAÇÃO DE JESUS (Séc. XI-XIV). DEVOÇÃO PRIVADA, PESSOAL.


Na idade média vemos intensificar-se a devoção às Chagas de JESUS, de modo especial à chaga do lado, onde os devotos descobrem o Coração de Cristo. Assim aconteceu com Santo Anselmo (+1109) que escreve: “A abertura do lado de Cristo nos revela as riquezas de sua bondade, o amor de seu Coração para conosco”. Também com São Bernardo (+1153) que proclama: “A lança do soldado trespassou a alma, tocou o Coração de Cristo... e apareceu o grande mistério de amor”.


No século XIII JESUS quis revelar a algumas pessoas consagradas a devoção que Santo Anselmo e São Bernardo descobriram nas suas meditações: Ele mostra a Santa Lutgarda (+ 1246, Bélgica) a chaga do lado e une o seu Coração ao dela. Santa Gertrudes (+ 1303 Alemanha) teve seu coração atravessado por um raio saído do Coração divino. Sua amiga Santa Matilde também foi agraciada com a visão do Coração de Cristo. Estas duas monjas beneditinas vêem o Coração de carne de JESUS na sua realidade divina e humana, como símbolo do amor e dos sentimentos do Verbo Encarnado para com o Pai e para com os homens.


Não só entre os beneditinos do s. XIII aparece a devoção pessoal ao Coração de Cristo. Também entre os franciscanos: São Francisco de Assis e Santo Antônio de Pádua, nas suas meditações da paixão do Senhor, aproximaram-se da devoção ao Coração do Senhor. São Boaventura (+1274) escreveu: “Nós, que conseguimos achegar-nos ao Coração dulcíssimo de JESUS, não nos afastemos d’Ele”.


São Bernardino de Siena (+1444) numa sexta feira santa exclama: “Vamos ao Coração de JESUS, Coração que sabe tudo, Coração que arde em amor”. Santa Clara (+1253) escreveu à Beata Inês de Praga: “Feliz de quem pode gozar as delícias do sagrado banquete e unir-se intimamente ao Coração de JESUS... cujo afeto atrai os corações”.


Também os religiosos dominicanos alemães do s. XIV têm a idéia desta devoção: Na lembrança da Paixão, na contemplação dos sofrimentos de JESUS, encontram o Coração ferido de amor, cuja água purifica, cujo sangue alimenta. Santa Catarina de Sena (+1380), dominicana da ordem 3ª, encontrou o seu amor no Coração de Cristo.


Nesta época os devotos vêem no Coração ferido os sofrimentos de JESUS, a vitória sobre o pecado, a bondade, seu amor infinito. Ele é o refúgio seguro, o repouso dos corações, a força na debilidade. Devoção cuja imagem é o crucifixo com a ferida no lado. Devoção apenas privada; ficou no âmbito pessoal, sem orações específicas, sem atos de culto ao Coração de JESUS. Celebra-se a Festa da Sagrada Lança e a das Cinco Chagas.


C – TEMPO DE GESTAÇÃO: A DEVOÇÃO AO SCJ GANHA FORMA. (Séc. XV-XVI)


Neste tempo, a devoção ao Coração de Cristo ainda estava misturada com a devoção às cinco Chagas e à Paixão. A separação foi feita lentamente, dando forma à devoção ao Coração de JESUS.


Ludolfo, monje cartuxo alemão (+1378) cuja “Vida de Cristo” influenciou a conversão de Sto Inácio de Loyola, escreve: “Ó JESUS, fazendo abrir o vosso Coração, abristes aos vossos escolhidos as portas da vida”. Pouco depois era comum nas celas dos monjes cartuxos, sobretudo na Alemanha, uma imagem do Coração de carne ou uma imagem das cinco chagas.


Os jesuítas, Ordem fundada em 1540, impelidos pelo espírito dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola assimilaram e divulgaram prontamente esta devoção: São Pedro Canísio (+1597) iniciado nela pelos monges cartuxos de Colônia, na Alemanha; o Pe. Diego Álvarez de Paz, no Peru (1585) e Ecuador; e outros.


O Beato José de Anchieta, ainda estudante em Coimbra, compôs uma bela oração em honra do Sagrado Coração. Atribui-se a ele a dedicação, em Guarapari, ES (1585), da primeira Igreja do Sagrado Coração.


Com o passar do tempo a devoção ao Coração de JESUS se separa da devoção às Cinco Chagas e da devoção à Paixão, e adota um feitio próprio com preces adequadas e práticas comuns aos fiéis.


D – TEMPO DE EXPANSÃO (Séc.XVII):


Da Alemanha e Países Baixos a devoção do Coração de JESUS passa para a França. Beneditinas, ursulinas e as visitandinas de São Francisco de Sales amam ardentemente este Coração. Fundadores de Congregações religiosas e seus membros consagram-se a Ele.


Santa Luísa de Marillac (1660), fundadora das Filhas da Caridade o desenha radiante sobre o peito de JESUS. A devoção se expande por toda parte, embora isoladamente. Surgem algumas imagens e medalhas que lembram aos olhos o Coração de JESUS.


São João Eudes (+1680) funda uma associação leiga e dois Institutos Religiosos, ambos consagrados ao Coração de JESUS e ao de Maria. Todas as capelas e igrejas deles devem ser consagradas ao Coração de JESUS. Ainda mais: Escreveu um belo livro intitulado “O Coração admirável de Jesus Cristo” e iniciou o culto litúrgico ao Coração de JESUS. Ele compôs missa e ofício em honra dos Corações de JESUS e de Maria, aprovados por diversos bispos franceses e depois pelo Papa Clemente X em 1674.


A partir de outubro de 1672 os religiosos fundados por São João Eudes rezam o ofício mencionado e a Missa do Sagrado Coração de JESUS. São João Eudes preparou o caminho a Santa Margarida Maria de Alacoque.

E – SANTA MARGARIDA MARIA (1647-1690):


É a partir dela que a devoção ao Coração de JESUS tomará grande incremento. Não parece que a Santa visitandina tenha sido influenciada por outros. Foi o mesmo JESUS que lhe revelou esta devoção. Em 16 de junho de 1675, na oitava da festa do Corpus Christi, JESUS apareceu à Santa, e descobrindo seu coração lhe disse:


“Eis o coração que tanto amou os homens, que nada poupou até se exaurir e consumir para testemunhar-lhes seu amor. E por resposta não recebo da maioria senão ingratidões, sacrilégios, desprezos com que me tratam neste Sacramento de amor...”

E pede que na sexta feira após a oitava do Corpus Christi seja instituída uma festa para honrar seu Coração. Margarida solicita a ajuda de São Cláudio de la Colombière, seu Diretor espiritual que, por cartas, pregações e direção espiritual propagará a devoção, na França e na Inglaterra, nos sete anos que lhe restam de vida.


Ela prega a devoção na própria Congregação da Visitação e insiste em solicitar a ajuda dos Padres jesuítas. O seu novo diretor espiritual, Pe. Croiset S.J. escreve um livro “A devoção ao Coração de nosso Senhor Jesus Cristo” que propaga a devoção na Europa, na China, nas Américas.


Em 1693 acontece um fato importante: O Papa Inocêncio XII concede indulgência plenária aos que comungarem na sexta feira após a oitava do Corpus Christi, nas Igrejas da Visitação. O documento é recebido como a aprovação pontifícia da devoção ao SCJ.



BIBLIOGRAFIA

- Enciclica “Miserentissimus Redemptor”, Pio XI, 1928: O culto ao SCJ é a síntese de toda religião.

- Encíclica Haurietis Aquas, Pio XII, 1956. Carta magna do culto e espiritualidade do CJ

- Carta Apostólica “Investigabiles divitias”, Paulo VI, 1965: lugar central da devoção CJ

- Carta do Papa Bento XVI no 50º aniversário da Encíclica HA, maio 2006

- Dictionnaire de Spiritualité, verbete Coeur Sacré

- Cor Christi, Instituto Internacional do Coração de JESUS, Bogotá 1980, 895 p.

- Louis Verheylezoon sj, La devotion au Sacré-Coeur

- Santa Margarida Maria Alacoque, Autobiografia. Ed. Loyola 1985

- Pe. Joãozinho scj, As 12 promessas do Coração de JESUS. Ed. Loyola 2004

- Pe. Armando Cardoso, sj, Evolução histórica da espiritualidade do SC, in: Um Coração novo para um mundo novo, Ed. Loyola 1989

- John Bovenmars msc, Espiritualidade do Coração, in: A espiritualidade do Coração, Ed. Loyola 1988

- Roque Schneider sj, A espiritualidade do Coração de JESUS, Ed. Loyola 2002

- Edouard Glotin, sj, O Coração de JESUS. Abordagens antigas e novas, Ed. Loyola 2003

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